domingo, 23 de maio de 2010

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Meses se passaram e eu consegui tirar da cabeça da Suely a louca idéia de freqüentar aquele “centro”. Mas as coisas não estavam muito bem no meu trabalho. Meu rendimento diminuiu, as vendas caíram e eu fui demitido. Fiquei arrasado, não imaginava como contar a triste novidade à Suely... Decidi voltar para casa a pé, a fim de esfriar minha cabeça e encontrar a melhor saída para aquela situação.
Qual não foi minha surpresa ao dobrar a esquina de casa e notar uma situação ainda pior. Suely estava sentada no chão, abraçada por Dona Ruth, em prantos, desesperada, gritando repetidamente que alguém estava dentro de casa. Quando olhei para cima, nossa casa estava em chamas e o corpo de bombeiros tentava combater o fogo para entrar e socorrer “quem estivesse lá dentro”, segundo Suely.
Quando ela me viu, estendeu-se sob meus pés implorando para que eu não brigasse com ela por nossa casa estar em chamas. Desesperadamente gritava que a culpa era “dele”, que “ele” havia colocado fogo em tudo, com seu charuto, e ainda estava lá dentro.
“Ele quem?” - Eu pensava – “Suely estava me traindo?”... Não conseguia raciocinar direito, então um dos bombeiros desceu as escadas de nossa casa e veio em nossa direção. Segurou minha esposa pelos braços pedindo que ela se acalmasse, pois não havia ninguém lá dentro. Tomei o lugar de Dona Ruth e esta foi buscar um copo de água com açúcar para Suely, que tremia e soluçava de pavor. Ficamos assistindo o trabalho dos bombeiros e vendo todos os nossos sonhos se desfazerem na fumaça negra ganhava o céu.
Quando Suely se acalmou, perguntei quem estava em casa, então ela disse que não o conhecia. Estava passando roupas quando ouviu uma risada, olhou para trás e viu um homenzinho com pouco mais de 1 metro altura, peles negras, traços marcantes no rosto, sorriso largo, bem trajado com um terno branco e um chapéu branco com fita vermelha. Ele segurava um charuto e o encostou na cortina, provocando o incêndio.
Assim que o fogo foi contido, o sargento do Corpo de Bombeiros veio conversar conosco. Disse que pela sua experiência, achava que o fogo teria sido provocado por um curto circuito na tomada da parede, atingindo a cortina, que fez com que o fogo se alastrasse. Na tomada tinham três aparelhos ligados ao mesmo tempo, provocando uma sobrecarga e originando o curto circuito. Disse não ter encontrado ninguém, e que alguns móveis e objetos haviam sido totalmente destruídos.
Pedi a Dona Ruth que levasse Suely para descansar enquanto eu tomada conta da parte burocrática do acidente, uma vez que o imóvel ela alugado e teríamos que dar satisfações ao proprietário. Mas a descrição do homem que Suely falou não saia de minha mente. Era exatamente a descrição de uma imagem de argila que vi no centro, no dia que estivemos lá pela primeira. Madrinha Teresa disse que o homem da imagem se chamava Zé Pilintra e era uma das entidades que trabalhava naquela casa.
Naquela semana ficamos hospedados na casa da Dona Ruth. Minha sogra, Dona Maria, usava seu horário de almoço e nos levava dois pratos de comida. Um para Suely e outro para mim, quando eu chegasse da rua após passar o dia procurando emprego.
Como diz o ditado, Deus fecha uma porta mas abre uma janela. Logo consegui um emprego num banco e alugamos um sobradinho na Vila Mariana, numa rua particular, fechada com portões.
Nesta época meu irmão Antonio Carlos veio do interior morar conosco e trabalhar na capital. Sua renda ajudava nas despesas. Suely cuidava de Priscila, a filha de um casal que se tornou nosso principal elo de amizades, o Paulo e a Ivone. Priscila adorava Suely e a chamava de “mamãe Shii”. Mas em pouco tempo, Paulo foi transferido para Belém do Pará, e a família toda teve que se mudar. Suely ficou arrasada e caiu em profunda depressão.
Eu não tinha muita paciência com a choradeira de Suely. Mal chegava em casa e me irritava em vê-la de camisola, estirada no sofá, olhando para a televisão ligada, mas com o pensamento longe. Aquela bela garota com quem me casei não estava mais lá. Suely cultivava olheiras por noites mal dormidas e começara a engordar por ficar em casa, na ociosidade, o tempo todo. Eu estava perdendo o interesse pela minha mulher.
No banco eu tinha uma amiga com quem desabafava meus desalentos. Inês era jovem, bonita, dinâmica e casada. Mas também tinha problemas com o marido, que não aceitava sua independência. Ela também era espírita, visitava um centro de candomblé. Com muita insistência, me convenceu de levar Suely de novo para o centro e procurar ajuda com Madrinha Teresa, para procurarmos respostas por causa do incêndio e da dificuldade da Suely de engravidar, uma vez que os médicos diziam que seu organismo era saudável.

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