sexta-feira, 28 de maio de 2010

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Chegou o feriado de setembro e decidi levar minha família para uma viagem, porém Patrícia praticamente exigiu que o Elder fosse junto. Mesmo contrariado, eu permiti.
Quando voltamos da viagem, minha casa tinha sido arrombada. Os ladrões tentaram fazer um buraco pela parede do meu quarto, mas não conseguiram perfurar a parede por completo. Conseguiram entrar pela janela, serraram a grade. Roubaram só uma máquina fotográfica, uma televisão e um videocassete VHS, de valor material. Entraram apenas no meu quarto e no quarto da Patrícia. As jóias da Suely ficaram todas expostas, em cima do fogão... não levaram nem um brinco.
Mas uma coisa estranha aconteceu: roubaram diário de Patrícia e uma pasta de desenhos dela.
Neste dia, quando chegamos, Patrícia e Elder foram para a rua e pareciam discutir, não sei o porquê. Só sei que o vi batendo na minha filha, no meio da rua. Quando eles me viram, saíram correndo. Meu sangue ferveu. Quando Patrícia chegou em casa, dei-lhe um tapa na cara para aprender que o único homem que poderia bater nela seria eu. Na mesma noite ela fugiu de casa.
Ficamos desesperados, fui na empresa que Elder trabalhava e disse que se minha filha não aparecesse, eu iria denunciá-lo à polícia, uma vez que ela só tinha treze anos. Todos fomos atrás dela, ate hoje eu tenho quase certeza que ele sabia onde ela estava. Depois de dois dias Patrícia me ligou, pedindo para buscá-la em frente ao Teatro Municipal.
Ao vê-la ali, minha emoção foi tanta que não pude fazer outra coisa, senão chorar... Abraçá-la forte e chorar... era o meu jeito de dizer que a amava.
A partir de então, nossas reuniões com os amigos já não eram mais tão legais quanto antes. Estávamos entregues ao sofrimento ao invés de conversarmos com nossa filha e tentarmos ajudá-la. Achávamos que ela tinha que aprender a lidar com o sofrimento sozinha, mas estávamos lá para ampará-la, se elas nos procurasse. Só se ela nos procurasse.
Suely voltou a se entregar à bebida e se descuidar e eu nada podia fazer. Me sentia de mãos atadas.
Meu desespero era tanto que, quando soube de uma vaga na empresa, para voltarmos para nossa cidade, imediatamente pedi para que eu fosse transferido. O salário era menor, iríamos perder os benefícios, mas nada se comparava ao inferno que estávamos vivendo.
Quando cheguei em casa, o Elder me esperava para conversarmos. Antes que ele falasse alguma coisa, seja lá o que fosse, eu queria conversar com minha família, expor minha decisão e pedi para que ele se retirasse, depois conversávamos.
Eu tinha a intenção de voltarmos a morar na mesma casa, matricular as crianças na mesma escola, para eles não passarem pelo sofrimento de adaptação novamente. Seria mais fácil voltarmos para um ambiente que já conhecíamos.
Ao comunicar a noticia, ninguém gostou da idéia. Principalmente Patrícia, que se rebelou gritando infâmias e dizendo que o Elder estava ali para pedi-la em casamento e correu para seu quarto. Suely, chorando com as coisas que também ouviu, correu atrás dela e a encontrou com uma faca nas mãos, a mesma encontrada em sua cama, no dia do assalto. Suely pulou para cima da Patrícia gritando e conseguiu tirar a faca das mãos de nossa filha, a impedido de cometer uma loucura.
Eu não conseguia entender como tinha conseguido ter deixado tudo chegar àquele ponto, mas com certeza deveria tirar minha família o mais rápido dali. Casar... como pode? Ela tinha acabado de fazer catorze anos... quem esse Elder pensa que ele é?
Patrícia já não se alimentava direito, reprovou de ano na escola, abandonou o curso de inglês e só vestia saias longas e camisas sem decote, por ordem do namorado. Vivia trancada no quarto, ouvindo som alto e não queria saber de conversa. Seus amigos não iam mais visitá-las. O telefone já quase não tocava mais. Onde eu tinha errado? Eu me culpava, Suely se culpava e cada um se isolava no seu canto.

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