Era comum abrir a geladeira de casa e encontrar cervejas, vinhos, licores e até mesmo bebidas destiladas. Tínhamos um barzinho na sala, todo espelhado, móvel em madeira nobre, com taças de cristais e bebidas importadas, que estava sempre com seu estoque sendo renovado.
As crianças estudavam de manhã e Suely acordava todos os dias às cinco horas da manhã. Preparava um lanche reforçado, um suco natural e sentava com os filhos na mesa, enquanto eles comiam. Mas seu café da manhã era um copo de cerveja e o hábito de beber a acompanhava durante todo o dia, somando no mínimo três garrafas por dia. Mas de nada eu poderia reclamar. Quando chegava em casa, ainda encontrava a janta pronta, fresquinha, meus chinelos na porta de casa e Suely acordada, ansiosa para saber como foi meu dia, assim como no começo do casamento, mesmo após dezoito anos de casados. Mas a diferença é que eu chegava cansado demais para conversar e principalmente para notar que seus olhos estavam fundos, avermelhados, sua pele pálida, sua fala mole, seu soluço insistente e seus reflexos alterados.
Depois que me formei, quando Cristina já estava com três anos, Junior com oito anos e Patrícia com doze anos, recebi uma oferta de promoção que implicaria em uma grande melhora de vida.
A multinacional que eu trabalhava me convidou para ser responsável de uma de suas filiais, em outro estado, com uma premiação que eu poderia quitar minha casa e ainda teria estabilidade de dois anos, todas as despesas pagas, inclusive a escola das crianças. Não hesitei em aceitar, mas quando dei a noticia para Suely, ela achou melhor darmos um tempo para contar às crianças, assim ela poderia prepará-los.
Depois de grandes transtornos, pois as crianças não queriam ir, mudar de escola e se separar de seus amigos, viajamos. Aluguei uma bela casa, com um quintal bem grande que prometia ser um belo lar. Uma vida nova, eu estava disposto a fazer diferente, ficar mais com meus filhos e me dedicar mais a minha esposa.
No começo foi difícil, Patrícia resistia em fazer novas amizades e começou a dar problemas de rebeldia, típicos da adolescência.
Suely, bem sociável e comunicativa como era, logo fez amizade com a esposa de um dos funcionários da empresa que também era novo na cidade. Aos poucos nossa vida foi se ajeitando, Patrícia começou a namorar e logo se enturmou com o pessoal de sua idade e alguns um pouco mais velhos. Não saia da casa de nossos vizinhos Katia e Elder, dois irmãos de dezesseis e dezoito anos, respectivamente, que se tornaram seus melhores amigos.
Eu e Suely fizemos amizade com a Elizabeth e o Pereira e todos os finais de semana nos reuníamos na casa de um ou de outro para curtimos o final de semana. Fred, meu funcionário e sua esposa Juliana também participavam das reuniões e esses dois casais se tornaram nossa nova família.
Estávamos sempre juntos, Suely estava muito feliz com a nova vida. Todas as sextas-feiras, Suely passava a tarde no salão de beleza se arrumando estava cada vez mais bela. As crianças tinham uma vida alegre e saudável e nós finalmente éramos uma família feliz.
Eu, conforme prometido, estava mais amigável e generoso, também me sentia mais feliz, mais maduro e mais responsável. Finalmente me sentia um pai de família.
Depois de um ano, não foi surpresa nenhuma quando Patrícia veio nos contar que estava namorando seu melhor amigo, Elder. Apesar dele ser de maior idade e minha filha ser apenas uma criança, nós aceitamos com alegria esse namoro, pois o rapaz era de uma boa família, muito bem educado e simpático.
Mas com dois meses de namoro, estes dois começaram tornar nossa vida um terrível pesadelo.
Patrícia não nos contava o que estava acontecendo, mas notávamos sua infelicidade e o ciúme doentio de seu namorado. Aos poucos Elder foi se tornando uma pessoa amarga e violenta.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
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