quarta-feira, 26 de maio de 2010

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O tempo passou, mudamos para nossa nova casa. Patricia cresceu, voltei a estudar, mudei para um emprego na área de vendas de uma multinacional.
Paramos de freqüentar o centro espírita, permiti Suely trabalhar em casa, como manicure e pedicure, e ela também pôde retomar seus estudos, mas logo engravidou novamente e teve que deixar de estudar e trabalhar.
Suely fez bastante amizades e nossa casa ficava sempre cheia. Eu tinha condições de pagar uma empregada para auxiliá-la nos deveres domésticos, assim ela tinha mais tempo para se reunir com as amigas.
Meu irmão Antonio Carlos já havia se casado e não morava mais conosco, mas minha irmã Izabel veio estudar na capital e estava morando em casa.
Tanta distração não me deixava perceber que Suely estava passando por problemas. E eu, sempre ocupado, não lhe dava a atenção merecida e prometida.
Durante a gravidez, dizia que o médico indicou a ela tomar malzebier (cerveja escura) para melhorar o leite, e o consumo de bebidas alcoólicas na nossa casa se tornava cada vez mais freqüente. Depois que o Junior nasceu, ela dizia que precisava tomar cerveja porque estava com pedras nos rins e a cerveja era diurética. Quando pedi um exame e o resultado mostrou que ela estava saudável, usou a desculpa de que a cerveja a ajudara expelir a pedra e para que não sofresse desse mal novamente, deveria beber diariamente. Eu nunca conversei com o médico dela para saber se era verdade. Talvez não quisesse saber.
Quando Suely engravidou da Cristina, eu estava cursando a faculdade e chegava todos os dias tarde da noite. Com isso acabei me distanciando da minha família, mas não deixava faltar nada a eles. Achava que assim estava cumprindo minha função de pai. Pude pagar a melhor educação, numa escola de freiras, cursos de inglês, informática, atividades esportivas, passeios a lugares culturais e próximos a natureza. Nas férias eu tentava redimir minha ausência os levando à viagens caras e fabulosas. Conhecemos o Norte e Nordeste do país, sempre íamos às praias mais belas e bem freqüentadas do litoral do Brasil, cidades históricas e interioranas. Mas não percebia que coisas mais simples como um abraço, um beijo ou um mimo no momento que eu chegava em casa os fariam mais felizes. Nos finais de semana, sempre saíamos para almoçar fora. Mas só íamos a lugares que eu escolhia, só comíamos o que eu queria e quando voltávamos para casa, eu me estirava no sofá em frente à televisão, para assistir jogos de futebol ou tirar um cochilo, sempre estava cansado demais para brincar com meus filhos ou curtir minha esposa.

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